segunda-feira, 25 de junho de 2007

JOSÉ JOFFILY: “É preciso ter alguma coisa para dizer”







Nascido no interior da Paraíba, em 1945, e criado na Zona Sul do Rio de Janeiro, José Joffily dirigiu seus primeiros curtas em 1977, 'Praça Tiradentes 77' e 'Alô Tetéia'. Começou a se destacar depois da repercussão de seus curtas-metragens 'Galeria Alaska' e 'Copa mixta', ambos de 1979. O diretor, produtor e roteirista recebeu a equipe do Claquetes para conversar sobre trabalho, idéias e seu assunto preferido: cinema.




Claquetes – Como foi usar um texto de Plínio Marcos, no caso de ‘Dois perdidos numa noite suja’, e adaptá-lo para a linguagem de cinema?


José Joffily – Foi uma experiência igual como a de qualquer outra adaptação, em que é preciso trair para ser fiel. Ou seja, o texto, originalmente, foi escrito para ser veiculado no teatro. Quando pensamos em fazer um filme, o primeiro passo foi tomar conhecimento da obra de Plínio Marcos, que é muito importante, não somente daquele texto iríamos adaptar. Quando você vai fazer uma adaptação, ajuda bastante conhecer a obra do autor. E também o contexto, a data, o entorno, as condições em que aquela história foi escrita, em que época, acho que isso tudo faz parte da pesquisa que antecede as decisões que você vai tomar para adaptar para um outro veículo. Então, nos aproximamos com uma certa cautela. Tentamos descobrir quais eram as intenções daquele texto, qual era a intenção de ‘Dois perdidos’ que Plínio Marcos escreveu.



C – No texto do Plínio, o Paco é um personagem masculino interpretado por um homem. Já no cinema o Paco foi interpretado pela Débora Falabella. Por que você escolheu uma atriz para fazer um personagem masculino?



JJ – Na realidade, eu quis fazer alguns exercícios ao longo do trabalho, identificando qual era o motivo central da peça. Entendíamos que a peça tinha como um dos motores essa possível aproximação de duas pessoas ferradas, de dois miseráveis. Torcemos para que eles se unam para superar as adversidades, mas, na realidade, o que acontece é o inverso, eles vão cada vez mais se distanciando. Então, considerando que esse seria o motivo ou seria um contraponto mais forte da peça, tanto fazia se puséssemos dois homens, um homem e uma mulher, duas mulheres, o avô e o neto. É uma dupla de miseráveis, que ao invés de se unirem, se antagonizam. Achamos que, contemporaneamente, seria melhor um casal, que seria mais atraente fazendo assim.



C – ‘Achados e Perdidos’ fala sobre o submundo de Copacabana, das prostitutas, das drogas. Por que falar sobre isso?



JJ – Na realidade, eu sempre me interessei por este tipo de literatura, esta literatura mais descartável, me interessa este tipo de história para contar. E também é uma história que permite você fazer muitos exercícios de estilos, exercício fotográfico, exercício de interpretação.



C – E como foi escolhido o elenco para ‘Achados e Perdidos’?



JJ – Para cada filme tem um processo diferente, para ‘Achados e Perdidos’, tínhamos uma decisão a priori, de que seria uma história triste, uma história sombria, uma história melancólica, mas a gente tinha um personagem que era um personagem solar, que é um personagem que a gente construiu de uma forma diferente dos outros, este personagem que é a Magali, a prostituta que morre logo no inicio do livro e desaparece, a gente resolveu estender ao longo do filme, como uma memória do protagonista, achamos que ela ia mostrar como sombrio eram os outros personagens, então para este papel, a gente queria que a Zezé Polessa fizesse, desde o inicio, a gente tinha convicção de que a Zezé faria um belíssimo trabalho.



C – Já o Antonio Fagundes não iria participar do filme, a principio seria o Tarcisio Meira.



JJ – De fato seria outro ator. Às vezes acontece isso, você convida um ator, as conversações vão avançando até que lá pelas tantas, por um motivo de ordem pessoal, o ator convidado não poderia fazer, aí vinte dias antes de começar a filmar, eu liguei para o Fagundes, fui franco e disse que estava tomando uma decisão de última hora e o Fagundes contribuiu imensamente para o personagem, acho que ele trouxe um caráter para o personagem.



C – E no caso da Juliana Knust, como foi feita a escolha.



JJ – Da Juliana, a gente fez teste com mais ou menos de quinze a dez atrizes, e escolhemos a Juliana mesmo, que por sinal fez brilhantemente.



C – Você é formado em Direito pela UERJ. Como foi este mudança, saindo do Direito e indo para o Cinema?



JJ – A minha entrada para o Cinema foi super casual, não planejei nada. Na verdade, eu comecei a trabalhar bem cedo, eu trabalhei como vendedor, trabalhei como caixa de banco, depois saí do Brasil, fiquei dois anos fora, voltei, fui trabalhar como vendedor de seguros, mas na realidade eu sempre fui fotógrafo amador, e lá pelas tantas, quando eu já tinha uns vinte e seis anos, um amigo que trabalhava numa agência de publicidade, me pediu para fazer uma foto para a agência dele, e aí eu fiz, gostei e comecei a trabalhar com foto, mas em publicidade.



C – Então, dá publicidade você foi para o cinema.



JJ – Depois da publicidade, eu comecei a fazer foto editorial, mas achei muito chato, mas era o que dava bastante grana, aí eu fiquei um ano com isso, comprei meu equipamento de foto e quando soube que iriam fazer um filme de longa metragem, eu fui me oferecer para fazer as fotos de divulgação do filme.



C – Agora, fale um pouco da sua parceria com o ator Roberto Bomtempo.



JJ – Cinema é uma coisa muito chata em certos aspectos, por causa disso, eu gosto de repetir as parcerias, eu prezo muito as parcerias. Então, você ter parceiros antigos, facilita muito a sua vida, é uma harmonia, eu tenho muito parceiros, e o Bomtempo é um deles, é um dos melhores.



C – Você é diretor, produtor, roteirista e já trabalhou também como ator em ‘Bete Balanço’. O que é preciso para ser um bom cineasta?



JJ – É preciso ter alguma coisa para dizer. É preciso você dizer alguma coisa para alguém, acho que isso que vai ser determinante. É preciso também ter uma turma para quem está começando e um bom lugar é a faculdade.

Um comentário:

Keila Vieira disse...

Cê tá muito desatualizada..

Estou em terras mineiras novamente..casei, já tenho um pirralho e estou esperando outro...

Bom, as três últimas coisas são brincadeiras. Pois, tudo isso seria até possível, sendo bem melodrámatica, como gosto.

Faz um tempo que não nos falamos, poxa!!!

Mas, vejo que vc ainda continua atrás da Marisa, então nada muito radical na sua vida, imagino.

Beijos..que bom que apareceu um cadinho..