domingo, 20 de maio de 2007

Uma noite para lembrar: o concerto de Morricone no MÚSICA EM CENA




Enfim, chegou o grande dia que todos aguardávamos. Após a coletiva realizada dia 02/05, o MÚSICA EM CENA - 1º Encontro Internacional de Música de Cinema, iniciou com o histórico evento que foi o concerto de Ennio Morricone. Pela primeira vez o Brasil foi o palco para a apresentação de um dos grandes compositores da história do cinema, e o público correspondeu lotando o tradicional Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Já na chegada a expectativa e a ansiedade eram enormes. Nunca havíamos apoiado e feito a cobertura de um evento desta envergadura, mas felizmente tudo correu perfeitamente. Num lugar privilegiado do teatro, foi impossível não me emocionar quando o vídeo do MÚSICA EM CENA começou a passar no telão, e o público começou a ovacionar os temas conhecidos que ouvia. Infelizmente nem tudo foi perfeito, a organização teve algumas dificuldades e José Wilker, lendo sob protestos da platéia um discurso longo, deslocado e mesmo equivocado do ausente Ministro da Cultura, foi o ponto negativo da noite. Mas felizmente esses detalhes foram ofuscados, pulverizados pelas maravilhosas duas horas de música que se seguiram.


Porque o que vimos e ouvimos ali foi a comprovação da capacidade que a boa música de cinema, mesmo à parte do filme para o qual foi criada, tem de assumir o primeiro plano e emocionar profundamente seus ouvintes. Sem as imagens em celulóide, entram as presenças de Morricone, da Orquestra Sinfônica da Petrobras, do Coral Sinfônico do Rio de Janeiro e dos maravilhosos solistas que acompanham o Maestro, como a soprano Susanna Rigacci e a pianista Gilda Buttá. O repertório é praticamente o mesmo do concerto de Munique, recentemente lançado aqui em DVD. Em momentos de enlevo musical, noto à minha volta mulheres soluçando, com lágrimas nos olhos, e homens tocados pela beleza do que ecoava por todo o teatro. Reviviam emoções já sentidas no escuro do cinema, ali resgatadas pelos mágicos acordes do Maestro. Momentos deslumbrantes, que apaixonaram a platéia a ponto de, ao final, Morricone - sem dúvida também profundamente emocionado com a reação provocada por suas obras-primas - retribuiu ao carinho e à paixão com que foi agraciado com um inédito triplo bis. Um feito e tanto para um senhor prestes a completar 79 anos e que segue maravilhando, com sua arte, pessoas de todas as idades, em todo o mundo.

Para minha satisfação, um dos três bônus foi a reprise de "The Ecstasy of Gold", minha composição favorita do italiano e que, com a mão trêmula, gravei para a posteridade - um trecho da gravação pode ser conferido
AQUI. Sem dúvida foi o ponto alto da parte da minha vida dedicada à paixão por trilhas sonoras. Mas outras emoções sem dúvida o evento me proporcionou, como o meu encontro, no coquetel que se seguiu, com o curador do MÚSICA EM CENA, Tony Berchmans, que como eu ainda não acreditava que aquele nosso sonho comum finalmente se concretizara. Disse a ele e repito aqui, todos nós temos para com ele um débito que nunca poderá ser pago. Porque o feito de Tony e da organização é de uma importância quase inconcebível, e que de modo amplo somente poderá ser melhor avaliado daqui a algum tempo.




Se houve problemas, é injusto destacar falhas que fatalmente ocorreriam na organização de um evento deste porte, porque afinal de contas foi graças à abnegação de um grupo de pessoas (como qualquer ser humano, elas não são infalíveis), que algo até há pouco considerado impossível aconteceu. Algo pelo qual aficionados de uma faixa etária que ia dos 15 aos 90 anos, aguardavam ansiosanente. Pessoas como Clesius Marcus Real de Aquino, provavelmente o maior colecionador de trilhas sonoras brasileiro, e Márcio Alvarenga, estudioso que mantém em Minas um dos raros programas radiofônicos nacionais dedicados à música do cinema, além de ser colaborador do ScoreTrack.




Ambos, amigos com quem há anos travo profícuos contatos à distância e que finalmente pude conhecer pessoalmente. Pessoas como Remo Usai, autor da trilha sonora do clássico filme nacional ASSALTO AO TREM PAGADOR, a quem tive o privilégio de conhecer. E tive também um momento tiete - pude abraçar a querida Renata Boldrini, que além de linda e competente, mostrou ser pessoalmente aquela mesma pessoa simpática e radiante que conheci através da telinha.

Enfim, o MÚSICA EM CENA não poderia ter iniciado de melhor maneira. Indiscutivelmente foi um concerto que poderá ofuscar as palestras, shows e concertos que se seguirão. Mas que não deixa dúvidas - o Brasil está pronto para realizar, com sucesso, novos eventos do gênero, e este foi apenas o primeiro de muitos e gloriosos que se seguirão.


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