domingo, 20 de maio de 2007

Criticas sobre cinema...



Bagunça audiovisual, e assim que posso definir...


Ó Paí Ó é uma verdadeira bagunça narrativa e estética, que usa e abusa da “baianidade” e seus clichês.


Ó Paí Ó, de Monique Gardenberg, é baseado na peça homônima levada aos palcos pelo Grupo de Teatro do Bando Olodum, dirigida por Márcio Meireles. A peça, que é do início dos anos 90 e está em cartaz novamente em Salvador, bateu forte pela boa articulação de diversos personagens marginalizados, representantes de um Pelourinho subitamente valorizado pelo Governo de ACM na década de 90. Vale frisar que, além da denúncia social, havia ali uma dramaturgia estabelecida e coerente, que dava conta de uma população peculiar e complexa.

Já em Ó Paí Ó, o filme... trata-se de uma bagunça impressionante, em todos os sentidos possíveis. Difícil notar ali vestígios de direção, capaz de conferir mínima coerência narrativa e estética ao filme.

Diferente da peça, os mais diversos personagens não ganham corpo, ficam na caricatura da baianidade simplória. Quase todos vivenciam situações exóticas, porque nunca contextualizadas.

Nenhum personagem possui trajetória, são todos jogados de qualquer forma na telona e dependem basicamente de seus carismas. Uns têm mais, outros menos. Muitas cenas constrangedoras se sucedem, como a do início do filme em que Emanuelle Araújo pede para que Lázaro Ramos a pinte à la Timbalada, do nada. E assim será, durante praticamente todo o filme, com cenas que pretendem certo impacto, mas ocas, que não dizem nada além de reforçar o estereótipo “Bahia”.

Numa outra cena “folclórica”, num sentido pejorativo, mais uma vez Emanuelle (a campeã de cenas constrangedoras nesse filme) se prepara para uma dança “sensual” e evoca novamente a Timbalada. No filme de Gardenberg, os personagens baianos tem na boca alguns poucos nomes vendidos pela indústria do carnaval da Bahia. Timbalada, Araketu e quase mais nada além disso. É um recorte pobre, coisa para se vender numa propaganda de 30 segundos.

Os trejeitos, a euforia e a molecagem baianas viram espécie de peça publicitária de um eterno carnaval, que se estende durante todo o filme e ganha contornos de conto de fadas no final.

Até mesmo uma das principais seqüências da película, quando Lázaro Ramos discursa contra o racismo baiano, em tom épico, possui algo de constrangedor. Independente da justiça das palavras, trata-se de um discurso pronto, sem elaboração alguma durante o filme e que vem à tona armadinho, feitinho para causar a boa impressão. Fica feio, de plástico, sem vida!

No cinema, todos sabem, tudo fica ampliado. Seria necessário, talvez, diminuir quantidade de personagens, tratá-los com mais cuidado, acompanhando-os mais.

Nota-se o esforço de Wagner Moura em compor um sacizeiro do Pelourinho..., mas como construir um personagem complexo como esse em apenas quatro ou cinco seqüências? A humanidade do sacizeiro foi descartada.

Pode até ser que o filme renda boas risadas para muitos. É compreensível, pois a película, em sua maioria, funciona sob o ritmo de gags de um programa cômico da TV. Vários pequenos acontecimentos “engraçados” acontecem, sem que haja liga que as una. São clichês sobrepujando clichês, o pior possível que se pode fazer no que diz respeito à representação de uma população.

Ó Paí Ó possui visão estereotipada sobre Salvador, seus espaços e sua gente.

Impossível vivenciar as dificuldades de um Pelourinho pré e pós ACM nas cores vivas e cômicas de Gardenberg. Impossível compreender aqueles tipos peculiares, improváveis, mas que todos sabemos verdadeiros. Impossível entender suas dores e mazelas históricas. Não há cheiro de gente no filme de Gardenberg. Não há tridimensionalidade, são pessoas de uma faceta só. Caricaturas, somente isso.

Como não existe a dureza do dia a dia, a denúncia social pretendida pelo filme cai absolutamente no vazio.

Ó Paí Ó reforça a necessidade de uma produção baiana independente e descompromissada, que traga à tona diversos tipos e elementos de nosso dia a dia, que se contraponham a tantos clichês da baianidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não concordo com todas as críticas. Um filme não tem, necessariamente, o compromisso de retratar exatamente um estado, uma cultura ou um povo. Pode ter o simples objetivo de divertir, e isso o filme Ó pai Ó, consegue fazer, sem sombras de dúvida. Sem contar o trabalho de produzir um filme em plena confusão do Carnaval baiano e a excelente atuação de Lázaro Ramos.

Paloma disse...

Completando: Mas adoramos o blog, as matérias estão muito interessantes!

Anônimo disse...

Ouvi dizer que esse filme é uma merda.