domingo, 29 de abril de 2007

'O mundo em duas voltas' retrata expedição dos Schürmann


Há alguns anos, o economista Vilfredo Schürmann e sua mulher, a professora de inglês Heloísa, realizaram aquilo que é um sonho remoto para muita gente: largaram a vida normal e transformaram-se em velejadores em tempo integral. O documentário "O mundo em duas voltas", que estréia no país na sexta-feira (27), acompanha a viagem realizada pelo casal entre 1997 e 2000.
O longa foi dirigido por um de seus filhos, David Schürmann, que viveu no mar entre os 10 e os 15 anos. Nessas duas voltas pelo planeta, repete-se o roteiro do português Fernão de Magalhães (1480-1521), primeiro navegador a realizar uma circunavegação completa da Terra, no século XVI. Uma das melhores sacadas do filme - contribuição do roteirista Luiz Bolognesi - é justamente traçar este paralelo entre a viagem idílica dos Schürmann por paisagens belíssimas, nas Canárias, Brunei, Filipinas, Bali e outros lugares, e as turbulências que marcaram a expedição de Magalhães, à qual nem ele mesmo sobreviveu.
Quando aquela viagem iniciada em 1519 terminou, três anos depois, não mais do que 18 marinheiros haviam sobrevivido. Na saída, a tripulação chegava a 300 homens. A viagem de Magalhães vai sendo acompanhada a partir de relatos extraídos do diário do tripulante italiano Rigaleta, ilustradas com as animações do francês Laurent Cardon - que morou no Brasil entre 1995 e 2006.
Em que pesem a beleza das imagens e a indiscutível simpatia dos Schürmann -nesta viagem, acompanhados pela filha adotiva Kat, de seis anos, que morreu pouco depois-, o documentário revela-se, afinal, um parente próximo das atrações de canais a cabo, do tipo Discovery Channel. Nada que deponha contra a qualidade da produção, que apresenta valor inegável.
Apenas observa-se um pouco de falta de ambição no sentido de realmente revelar a fundo as paisagens e realidades humanas contadas ao longo destes alegados mais de 60 mil quilômetros percorridos. Em "O mundo em duas voltas", todos os conflitos -mesmo os familiares- são relativizados, todas as contradições da realidade, evitadas. O retrato resulta um tanto adocicado, embora bonito.

Um comentário:

Anônimo disse...

É o registro muito bem feito de uma fabulosa aventura familiar! O que você queria? Um "Big Brother" dos mares? Um ridículo "reality show" de perigos e conflitos familiares? E por que "alegados" 60 mil Km? Qual o motivo da desconfiança? Para você, duas voltas no Globo dariam quanto? E que diferença faz, afinal?